Não lembro a data exata. Sei que era lá por setembro de 2007. Era um fim de semana. Não sei o motivo, mas perguntei para a minha mãe, Maria, se ela ainda tinha o registro de batismo da minha bisavó Emília.
Tudo o que sabia, na verdade, tudo o que tinha ouvido falar era que ela havia nascido em Almería, na Espanha. Veio de lá pequena e se casou por aqui. Não cheguei a conhecê-la.
Minha mãe veio então com o que ela tinha sobre minha bisavó. Eram três folhas.
A primeira era a certidão de casamento dela com meu bisavô Roldano (depois descobri que era Roldão, mas isso é outra história) em Reginópolis, São Paulo, em 2 de junho de 1923. O documento dizia assim:
[…] assento de matrimônio de Roldano Ribeiro e Emilia Gonçalves Mironi, contraído perante o juiz João Benvindo de Camargo Filho e as testemunhas às constantes do respectivo ato. Ele, nascido em Pederneiras, Estado de São Paulo, aos 12 de fevereiro de 1902, profissão lavrador, domiciliado em este distrito e residente em este distrito, filho de Henrique Ribeiro e de dona Antonia Maria Ribeiro […]. Ela, nascida em Província de Almeria, Hespanha, aos 1º de junho de 1905, profissão prendas domésticas, domiciliada em este distrito e residente em este distrito, filha de Domingos Gonçalves Granero e de dona Antonia Maria Molina […].”
No segundo papel, a certidão de registro de estrangeiro do pai da Emilia, que ia assim:
Certifico que o Sr. Domingos Gonzales Granero, de nacionalidade espanhola, natural de Almeria, Hespanha […].”
Ótimo, estava bem claro que eles eram de Almería, de alguma cidade de lá, pelo menos. Afinal era o que eu sempre tinha ouvido. Mas aí veio a terceira folha. Isso mudou tudo, ou quase tudo, para não exagerar.
Era um xerox da certidão de batismo da minha bisavó. Tudo escrito à mão e com uma letra bem complicada de entender. Junto com a minha mãe, fomos tentando decifrar o que estava escrito.
O que nos chamou atenção era que não havia nada de Almería no meio. Caçando as palavras, encontramos a Provincia de Granada. E o nome de uma cidade que não conseguíamos entender. Começava com a letra C, tinha um J no meio. Recorri ao Google Maps percorrendo a província de Granada.
Eis que estava lá: Castilléjar. Uma pequena cidade, que na época em que minha bisavó nasceu, tinha pouco mais de 2 mil habitantes.
D. José Gomes, Cura Párroco de la Iglesia Parroquial de La Purisima Concepción de la villa de Castilléjar, Prov de Granada, Arcebispado de Toledo, certifico que en el libro vinte y uno de Bautismos […]. En la villa de Castilléjar, Província de Granada, Arcebispado de Toledo, Parroquia de Purísima Concepción, a primero de junio de mil novecientos cinco: Don José Gomes Cura Párroco de la [presente] bauticé solemnemente á una niña que nació al treinta y uno de mayo a las cinco de la mañana, hija legítima de Domingo Gonzalez y Antonio Mirón: Abuelos paternos Alfonso Gonzalez y Rosa Granero, y maternos José Antonio Miron y Rosa Molina […]. Se le puso por nombre Emília.”
Acho que foi nesse momento que tomei gosto por pesquisar a família. Sei que a partir dali foram outras tantas descobertas. E desde então, eu e meu pai, Valdir, que sempre gostou do assunto, nos tornamos os malucos das pesquisas sobre nossa família.
De qualquer forma, Castilléjar vai ter sempre um espaço especial. Foi ali que a árvore genealógica começou a tomar forma.