A genealogia sempre nos reserva boas histórias. Desde quando comecei a pesquisar a história da minha família, vários fatos interessantes me chamaram a atenção. O mais recente deles e um dos mais curiosos foi descobrir que sou descendente de um padre. Ou melhor, de dois padres.
Como assim?
Ao pesquisar um dos ramos da minha família em Portugal cheguei ao documento de casamento dos meus 8º avós paternos, Francisco da Cunha e Domingas Fernandes, na freguesia de Crespos, concelho de Braga.
Além da alegria de conseguir chegar a esse documento, que me garantiu mais uma geração na árvore genealógica, tive a surpresa: o pai do Francisco era padre. Segue a transcrição (para o português de hoje) do documento para ficar bem claro:
Aos dez dias do mês de outubro de mil setecentos e sete anos receberão em minha presença em face de igreja dados primeiro as denunciações na forma do Sagrado Concilio Tridentino e Constituições deste Arcebispado, Francisco da Cunha, filho do reverendo Abade Jeronimo da Cunha, Abade que foi da igreja de Salvador de Donim, e de Joanna Teixeira, solteira do lugar da vila desta freguesia, com Domingas Fernandes, filha legítima de Antonio Fernandes e de sua mulher Maria Francisca, já defuntos, moradores que são no lugar da vila desta freguesia…”
Obviamente fiquei surpreso. Mas queria confirmar essa informação. Fui aos livros da igreja da freguesia de Donim, em Guimarães, e realmente o Jeronimo da Cunha foi padre por lá, pelo menos entre 1662 e 1694.
Na sequência, acabei me deparando com a inquirição de genere do irmão do Francisco. Sim, o padre teve outro filho, e com a mesma mulher, Joanna Teixeira.
A inquirição de genere era um processo feito para quem desejava seguir a vida eclesiástica. Então ali eram levantados documentos e entrevistadas pessoas das freguesias próximas para chegar à conclusão de que aquele cidadão estava apto, era “puro”, para virar padre.
Na inquirição de genere de Luis da Cunha Lopes da Barreira, veio a confirmação. Jeronimo da Cunha era mesmo padre e tinha de fato um relacionamento com Joanna Teixeira, visto que as pessoas entrevistadas atestavam essa situação.
Não bastasse isso, veio mais uma surpresa. O padre Jeronimo da Cunha era filho de outro padre: Francisco da Barreira. Ou seja, foram pelo menos três gerações de padre. Como pode?
Estou falando de um tempo em que um padre ter filho não era condenável, pelo menos nas pequenas freguesias de Portugal. Era bastante comum, aliás. Claro, nem sempre os padres reconheciam os filhos. São coisas da época.
Dizem em Portugal, em relação à genealogia, que é muito provável que todas as pessoas tenham pelo menos um antepassado que fora padre. Logo, por mais que eu tenha ficado surpreso, não é uma situação tão incomum assim.